28 de fevereiro de 2011

à luisa

agora o mundo é grande
e cabe na palma da mão.
agora os sonhos são grandes
e cabem na palma da mão.
mas quando crescerem os teus pensamentos,
teus olhos enxergarem o mundo grande
e já não fores tão pequenina,
maior que o mundo,
maior que os sonhos
e todo o resto
será o meu coração.

23 de fevereiro de 2011

a vontade
de atar-me
o medo do dia
o sossego descontínuo
a leitura repetida
o silêncio descortino
a companhia inoportuna
a conversa interessada
o café requentado
e desatarme!

20 de fevereiro de 2011

esse calor que revolve o meu corpo
não é brasa, posto a ventania
não é febre, posto o frio
não é coisa alguma
senão o meu corpo pensando o teu.

18 de fevereiro de 2011

a joan miró

aquelas cores penduradas na parede
não contavam aparentemente nada
porque estavam tão somente na parede.
mas faziam-me sentir que eram uma constatação
exatamente de não sei o quê.
pareciam transformar alguma coisa
qualquer coisa que se pensasse
como se tudo fosse feito para brincar
e para ser desmontado e montado de ponta-cabeça
ou para estar naquele lugar como na realidade deveria ser.
quando eu fechava os olhos
as cores tornavam-se curiosas
confundiam-me a cabeça
brincavam com o meu espírito
depois eu me deixava subjugar
e desfalecia banhado pelas cores
do quadro que eu imaginava ter pintado.

Descrição não passa de ampliação nula.

Crosta impermeável ao redor da coisa.

Muro de acréscimo para cobrir genitália.

Da coisa sem intervalo e puramente coisa

Que além de bisonha é demasiada nua.


16 de fevereiro de 2011

i

meu coração tem um desejo de estrelas
estrelas imóveis, intactas, silentes
misteriosamente distantes.

meu coração tem uma vontade de estrelas
cadentes, triplamente maria, estrelas à toa
que diante da vida não se atordoam.

meu coração tem um impulso de estrelas
o não-querer de ser satélite ou planeta
de seguir erradia rota de cometa.

mas não faz sentido que as estrelas
se escondam toda vez que as procuro.
fugiram para um outro paraíso
ou meus olhos não alcançam mais o firmamento.

ii

depois de agora conversaremos as coisas do mundo
as dúvidas que temos de mim e de ti.
de certo se prolongará por toda a tarde
e como são custosas as tardes de domingo.
mas não há preocupação alguma
apenas nosso descanso
descanso das coisas que valem o esforço
que valem o esforço de suor.
logo que escurecer, depois de muito conversarmos
ninguém estando entre nós e o céu
nos tornaremos enfim estrelas
formaremos uma constelação de mim e de ti.

7 de fevereiro de 2011

tenho apenas duas mãos.
se tivesse mais que isso
eu seria gregor samsa.




À Marcela Reichelt


Com a tríade de Vênus
risca em pele
um relevo de enlevo,
um pulo.
Palas, pelo palco
em paz de corpo,
em pêlo.
Freme!
Inquieta-me mais,
tez que dança-se no breu,
que despe-se na luz
e renasce-se
na aurora sem brilho.
Liberta de todo riso,
apenas dissolve-se
num deslizo giocondiano.
Lança estacada um desvelo,
olhar de quem não se veste mais,
e retoma o eterno bailado de antes
eclipsado por detrás do escuro.



 

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