7 de dezembro de 2011

o que se parte em mim
não me soa como quebra
é soma, multiplicação
reverbera pulsante
como o coração que salta
chora, grita, sorri
e quer ser música.

o que partiu-se dentro mim
não me apavora
só dilata e me fita
sabe lá porquê
viravolta some
e me aparece
feito música sem nota.

3 de novembro de 2011

duas peças iguais não se encaixam
se encaixam, uma delas fica pelo avesso
e o encaixe não forma figura
[rosi alves

como a um espelho se parte
quero ter em mim desejos
que sendo um eu não teria.
possuir tudo a tato
correr no corpo o sentido
de não ter abismo
entre mim e outro
sujeitar-me
não a mim, mas ao outro
e refazer a minha imagem
decomposta no espelho, outro.

16 de outubro de 2011

minha mãe já me dizia
dentro de uma água mole
sempre bate uma pedra fria.

15 de outubro de 2011

essa coisa de querer a qualquer custo
de querer incondicionalmente
sem o escrúpulo de pensar
ainda vai me perder a vida.
minha avó dizia
que crianças espertas
são anões em trajes infantis
eu nunca fui anão
assim como nunca fui esperto
mas já fui criança
e é disso que me lembro.

8 de outubro de 2011

‎no princípio era a boca,
para que se
fizesse o verbo.
do verbo, nasceu a flor.
e hoje eu não sei
o que se faz com ela
- talvez caeiro saiba -

26 de setembro de 2011

sob a sombra dos bruxos, me escondo
com medo de que me vejam
bem de perto como eu os vejo.
cada olhar me amedronta mais.
ando para me afastar e os sinto sempre mais perto.
já os percebo sussurrando ao meu ouvido
mas não me escutam nem me vêem.
estão enterrados com as lápides
que guardo em meu quarto.




Cântico
de encantos

e enquantos

14 de setembro de 2011

Cabe em mim toda a agitação do mundo.
Ora preso, ora torto, ora absoluto.
Cabe em mim todas as dores do mundo:
Como pêndulo, que incessantemente, marca
Passo a passo
O compasso do Ser.
E não satisfeito, sou metade homem
Metade fêmea
Metade bicho.
Sou feito de várias metades, se assim o puder,
Sou inquietação, sobressalto,
Sou mansidão e acalanto.

11 de setembro de 2011

anos e anos de transe
mirando enérgico
a própria imagem espelhada
desperta narciso
inexplicavelmente.
agora vendo da sua velhice
as rugas marcadas
os cabelos brancos
nariz e orelhas sem simetria
a pele caída e engelhada
narciso se pergunta:
― era isso mesmo que eu fitava?
corre o tempo apressado
disparando tique-taques.
ninguém sabe nem viu
quando passou a primeira hora.
apenas se ouve tique-taques.

tique-taque...

e a vida já não é a mesma.

8 de setembro de 2011

- pai, há doença de alma? pergunta o menino com um ar de quem esquece o que pergunta. o pai, impaciente, ou como se não soubesse a resposta certa, esboça um não no canto da boca.
- porque a minha é feita buraquinhos na parede, cheia de furos mas sem vista de janela.
e sai, feito pássaro que acabara de ser aprisionado.

26 de agosto de 2011




Deitada a sonhar
Na que é de dormir
Na que era de amar.

21 de agosto de 2011

19 de agosto de 2011

desperta, meu coração
não te quero junto à noite
o céu não se encheu de estrelas
escureceu até a lua
e na porta de casa
sopra um vento descomunal
gélido coração
habitante de rota abissal.

desperta, meu coração
não te quero atravessado
meus olhos saltam no silêncio
marcação descompassada
ritmo todo arredio
e no peso de respirar
cansado coração
dormes sem tempo para volta.

É noite, e tarda!

18 de agosto de 2011

à Ms. Elisalene

alargando os lábios
como uma poesia alegre
de bordado na saia,
passa
a dona dos marrons mais bonitos
e admira o meu
que é apenas um
sobre a fazenda
sobre as tiras de couro,
pesadas
que se arrastam em meus pés
procurando chão de terra.

8 de agosto de 2011

O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração.
Maiakóvski



num instante se erguem

quais aplausos vibrantes.

envergo-me a fim de que

[o rosto

já não fique nu.

sou dado a patologias

tenho medo do mar, do céu

do amar, do seu.

fico preso qual bicho acuado

enquanto vibram, e de mãos,

lado a lado, atadas como

em amor

[eterno.

que horas eu devo acordar?

ou tudo não passou dum

sonho. ou viestes ver-me

e atormentar.

sou dado a patologias

tenho medo de que isso tudo

[um dia

torne-se a repetir.

31 de julho de 2011

[ REVISIT# ]

Alcântara .

Preciso [re]experimentar falar algo novo. Como que um grito agudo recuado. Ver-me novamente dans la glace.

Levar de encontro ao dia

- ao dia –

homens corajosos em confiar em mim,

que pensar é o melhor fardo. pois o feito,

ainda é o bônus, e só virão os homens corajosos quando de encontro ao feito.

“Mas o fim é mais

um [re]começo”

Glauber® [risos], proteção nessa hora,

que Jean® me dará as mãos que beijam bocas,

avermelhadas num sorriso.

Pois seu surreal hoje Tão real que apelo ao

ridículo. várias vezes.

dos suores

restou a saliva

que te aqueceu

um dia.

29 de julho de 2011

- pai, o que é o amor?
- estou incerto!

26 de julho de 2011

quantos navios por aqui passaram
aportando, depois partindo?
quantas vidas que aqui houveram
já não se dão ao ouvido?
e a mulher que era muitas
por ser de todo o mundo
não fica nem na lembrança
de quem por muitos portos anda.
e a mulher que se entregara
aos trabalhos do mar
não era nem de perto a Madalena
que me encantou
pois não queria ter no corpo
a marca de um nó.

22 de julho de 2011

meu coração enganou-me.
caiu em desobediência
e partiu-se de mim
como quem arranca de um rio as suas margens.
fez do que havia em mim desassossego,
mutilou-me o peito,
errou-me o sangue nas veias.
ah, meu coração!
não queiras mais ir contra a correnteza,
que só te cansa.

20 de julho de 2011

Flui estouvada

Seduz fingidamente viva

Cotovela para ser gestada

Aduba a anticoncepção

Logo respira, anda e fala

E logo também berra, altiva


Magoada prenhez

Que quebrantou cada estação

Mês-a-mês


Magoada parição

Da anca desarranjada

Do complexo da castração

Emancipada na fralda


Magoada abstração.

sem o saber, um objeto último
da primeira tarde da era
(que salva a tudo)
e de saia, uma graça!
no céu vermelho, despetalando
como rosa – o mundo era salvo
por duas fatias de tomate fritando
anseiando uma pela outra
fazendo pedidos dissolvidos
no quente borbulhar de uma frigideira.

sinto um calor

ancorado em geometrias

que ruminam silencio.

vago mouco

e descampado

numa doentia febre.

perdido e sem sombra

pergunto ao nonsense

quem és?

pergunto pelo perpétuo

pelo oco.

e minha própria flama

revela uma resposta abissal

sobre o fogo imperecível

e o supor-se vivo,

adorável vertigem.

o suor é palavra viva orvalhando a pele

um modo de dizer o percurso pela imagem.

quantas das improcedentes linhas de fumaça

que te deixam ser a intersecção de todas as metáforas da natureza

desfizeram-se no ar até hoje?

o movimento é palavra que nasce a todo o momento

do corpo sempre prenhe de nuances múltiplas e contrárias

o tempo e a eternidade, o taís quer não quer ser

o desejo e a resistência

o mundo e o eu:

tudo evolui junto com a palavra e nos dá a possibilidade do toque

de escafandrar o concretus, do verbo concrescere que está em tudo.

o crescimento é palavra tão vaporosa...

mas sentimos também sua matéria espessa,

a textura de sua ciranda em espiral

e a primeira mão sempre buscando segurar a ultima

para o crescer junto

para com-crescer.

 

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